Projeto reconhece profissões de TI, mas exclui criação de conselhos

[quote=glaucioguerra]
Agora que a lei foi aprovada fica complicado voltar atrás …[/quote]

Aprovada? Tsk, tsk. Você não conhece nada de política! Ela foi aprovada em uma Comissão! Que é o primeiro passo para se aprovar um projeto de lei, ainda tem que passar pela Câmara e pelo Senado, e finalmente passar pela assinatura do Presidente.

Até lá, o projeto vai morrer no caminho, pois a rejeição é grande.

Li o tópico inteiro apenas ontem à noite (e mais alguns novos posts hoje de manhã), e pude perceber algumas coisas:

:arrow: Os defensores do projeto acreditam em pai-dos-pobres.
Algumas pessoas estão defendendo o projeto ou porque estão subordinados a algum chefe supostamente incompetente que não possui diploma, ou porque se sentem injustiçados por não ter uma carreira decente depois de anos de estudo em uma instituição de ensino superior. Aos que pensam assim, meu recado: deixa de ser chorão! Vocês tem n alternativas para resolver os seus problemas, como: fazer cursos ou aprender sozinhos coisas novas; ter uma postura mais proativa e reclamar na empresa onde vocês trabalham aquilo que não lhes agrada; trocar de emprego, mas focando naquilo que seria bom pra vocês; abrir uma própria empresa onde vocês fixariam suas próprias regras… Ou seja, existem várias opções que o cara poderia fazer sozinho, sem depender do Estado pra intervir, mas que por alguma razão, não faz. Mas eis que surge alguém do Estado e lhes diz: “Não temam, descamisados! Farei uma lei que regulamentará a sua área para que sua vida seja melhor!”, e essa lei, quase que por mágica, removerá aquele chefe incompetente do lugar, fará sua carreira ficar mais significativa e seu salário crescer. Só duas dúvidas minhas ficam no ar: 1) porque ter essa visão esquerdista de que o Estado tem que intervir em cada aspecto da vida do indivíduo, quando seria mais fácil ele próprio ir atras do que ele quer? 2) porque acreditar na necessidade dessa regulamentação se, em casos extremos, as leis do trabalho ou código penal, seriam suficientes para lhes proteger?

:arrow: Os defensores acreditam que o Senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é competente para lidar com assuntos de TI.
Aqueles que defendem o projeto de lei talvez nem saibam quem é Eduardo Azeredo, ou tem memória muito curta para lembrar. Ele foi governador na época em que FHC era presidente, e atualmente é senador. Há dois anos atrás, ele propôs uma lei sobre a internet no mínimo cômica, a de cobrar a identificação pelo RG de todo usuário brasileiro que entrasse na rede, prevendo punições a quem não cumprir (link), não precisou muito tempo para que a sociedade mostrasse o quanto isso era burocrático e ineficaz para controlar o cybercrime. Agora, o mesmo senador propõe outra piada disfarçado em projeto de lei. Não tenho dúvidas de que o senador não conhece nada da área de TI, mas parece que tem gente que ainda não se tocou.

:arrow: Os defensores do projeto exibem exemplos, supostamente bem-sucedidos, de outras profissões no Brasil, onde existem conselhos de classe.
Pode-se dizer que o médico tem seu registro, o contador tem, o advogado tem, o arquiteto tem, e que por isso seria importante o profissional de TI também ter; mas ainda sim não me convence, pois a nossa profissão possui uma dinâmica diferente. (Ainda seria possível questionar a real necessidade dos conselhos de classe atualmente existentes no Brasil, mas não tenho embasamento para tanto. Assumo que elas são importantes na minha argumentação, apesar de não acreditar muito nisso.) A primeira diferença é que nossa profissão, majoritariamente, é uma atividade realizada em grupo, cujo relacionamento entre os envolvidos se dá através de empresas e instituições; enquanto que em profissões como advogacia, medicina ou engenharia civil, a interação, na maioria dos casos, ocorre entre um único profissional e seu cliente; e nesse caso, um erro cometido por um profissional de TI pode ser corrigido pelo grupo, antes que ocorram conseqüências graves, enquanto que um erro cometido por um profissinal liberal possui impacto direto em seu cliente. A segunda diferença é que algumas profissões, como médico, interferem diretamente na vida e no bem-estar de seus clientes, erros podem causar perdas de vidas humanas; a área de TI não sofre disso, mesmo que o profissional construa um software que controle bombas nucleares ou que monitore batimentos cardíacos, porque haverá por trás, os stakeholders que farão a homologação do software em ambiente controlado para que, numa situação real, os riscos de perdas humanas não ocorram. Quem acha que o médico poderia fazer essa mesma homologação antes do paciente entrar na faca?

:arrow: O projeto desconsidera fatores realmente relevantes para a TI no Brasil
A Índia é lider nos contratos de terceirização, e o Brasil não chega nem perto, contentando-se com as sobras do mercado externo e com o pouco que resta do interno. Do salário líquido que o trabalhador recebe, quase o valor de um outro salário é pago ao Estado, fazendo com que o trabalhor receba um salário de país de terceiro mundo, enquanto a empresa paga um de país de primeiro mundo. As instituições de ensino de TI no Brasil são poucas, e do que se tem, somente algumas possuem uma qualidade decente. Agora me diga: dos problemas citados, quais o projeto de lei se propõe a resolver? Se você disse nenhum, acertou. O projeto de lei não só não resolve nenhum problema da área como pode criar complicações que, se levado em prática, faríamos perder cada vez mais competitividade. Exemplo: potenciais trabalhadores que deixariam de ter o direito trabalhar em TI, poderiam facilmente ser substituídos por trabalhadores na China ou na Índia. Já pensaram nisso?

Sendo contra ou a favor do diploma, um conselho que dou é quem não tem um corra atrás. Certo ou errado, isso aconteceu com diversas outras profissões e vai acontecer com IT, pode ser no próximo ano, pode ser daqui a 50 anos.
Aposto que Tiradentes não tinha diploma e mesmo assim exercia odontologia ou pelo menos algo parecido. Com a medicina também foi o mesmo. Até o começo do século XX existia muita gente que nunca freqüentou uma faculdade e advogava com o que aprendeu nos livros ou por experiência.

Do mesmo jeito que posso aprender informática sozinho, nada impede que compre livros de direito e aprenda a advogar. Aposto que tem muito concurseiro profissional que sabe mais direito constitucional, administrativo, tributário entre outros que muito advogado, mas como não tem diploma não podem advogar.

A faculdade em si não garante o bom profissional, tá aí o exame da OAB para provar. Se não em engano mais de 70% de reprovação no exame de ordem todo ano. A cada ano as faculdades derramam milhares de bacharéis de direito que não sabem bulhufas. Com informática acontecesse o mesmo. Mas é natural que com o tempo e o amadurecimento da profissão se crie conselhos e exigências para se exercer. Pode ser que esse projeto não passe agora, mas vai ficar voltando até um dia ser aprovado.
Melhor se prevenir e garantir o seu canudinho para daqui a alguns anos não correr o risco de ficar chorando, pois foi empurrado para fora do mercado.
Não estou dizendo que quem tem canudo é melhor ou pior, mas é algo que já aconteceu com dezenas de outras profissões e nada impede que a qualquer momento aconteça com informática.

[quote=Leonardo3001]A primeira diferença é que nossa profissão, majoritariamente, é uma atividade realizada em grupo, cujo relacionamento entre os envolvidos se dá através de empresas e instituições; enquanto que em profissões como advogacia, medicina ou engenharia civil, a interação, na maioria dos casos, ocorre entre um único profissional e seu cliente; e nesse caso, um erro cometido por um profissional de TI pode ser corrigido pelo grupo, antes que ocorram conseqüências graves, enquanto que um erro cometido por um profissinal liberal possui impacto direto em seu cliente. A segunda diferença é que algumas profissões, como médico, interferem diretamente na vida e no bem-estar de seus clientes, erros podem causar perdas de vidas humanas; a área de TI não sofre disso, mesmo que o profissional construa um software que controle bombas nucleares ou que monitore batimentos cardíacos, porque haverá por trás, os stakeholders que farão a homologação do software em ambiente controlado para que, numa situação real, os riscos de perdas humanas não ocorram. Quem acha que o médico poderia fazer essa mesma homologação antes do paciente entrar na faca?
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Perfeito! Comparações com outras áreas como fizeram aqui são totalmente descabidas.

Sério mesmo que vocês acham que tem que ter faculdade pra fazer CRUD? Que é 90% dos projetos que trabalham 90% dos programadores.

Faculdade não ajuda em muita coisa. Ainda mais com o conteúdo velho e engessado de 90% dos cursos superiores de informática que tem por aí.

Regularizar a profissão não vai ajudar em nada na qualidade dos profissionais.

[]'s

Rodrigo Auler

Olá

Certíssimo! Longe de nós ser contra quem estuda.

Sim, até porque curso de faculdade virou produto comercial sem nenhuma fiscalização. Vocês sabiam que tem dono de universidade no interior de SP que está preso? Que outro dono de um grande grupo de SP que diz que é 10 é considerado bandido até por alguns dos seus colegas donos de outras universidades?

Há muito dono de universidade bem intencionado mas há alguns que só pensam na grana. Universidade virou negócio e não é a toa que um dos maiores grupos é de propriedade de um banco.

Antes de regulamentarem a profissão deveriam definir melhor os cursos. Mas o que se vê por aí é faculdade vendendo fita VHS por 50 reais e dando diploma de ensino à distância.

[]s
Luca

Eu ia comentar isso que o Luca falou agora. Muitas faculdades estão investindo pesado no ensino a distância, e assim demitindo os professores, principalmente os doutores($). Em breve, o diploma será next ->next->finish.

Regulamentar não significa necessariamente que deva se fechar só para quem tem diploma. Mas é importante ter um conjunto mínimo de regras, requisitos, direitos, deveres e até formas de punições para os maus profissionais.

Acho que quem passa centenas de horas estudando em uma faculdade, para uma certificação ou até mesmo de forma autodidata muitas vezes se sente injustiçado porque muitas vezes um empregador que não sabe anda de TI quer te pagar um salário ridículo e ou prefere alguém com um diploma de 20 horas do Senac que não sabe nada mas cobra 1/10 da tua hora. Ou aquela empresa que investe pesado em qualidade, mas perde mercado para um programador gambiarra que cobra 200 reais para fazer um sistema que bem feito custaria 1000 vezes mais que isso.

Infelizmente, a maioria das pessoas que não são da área não tem a menor noção do que um profissional de TI faz, para eles é só apertar uns botões e pronto. Uma vez fui dar manutenção em um servidor Oracle/Solaris em um hospital e fui recebido pelo suposto responsável do setor como o ?digitador?, na hora deu vontade de rir, mas na cabeça dele eu e um digitador somos a mesma coisa.

Quanto a minha posição sobre o assunto, hoje tenho um sentimento um pouco ambíguo. Na época de faculdade e mestrado eu até que era a favor, mas quando imigrei para o Canadá fui beneficiado pelo fato de aqui também não ser regulamentado. Vi vários brasileiros formados em odontologia, engenharia, enfermagem, entre outras profissões regulamentadas que enfrentaram ou estão enfrentando a maior barra para poder trabalhar na área. São processos que podem levar mais de ano e muita vezes são obrigados a fazer quase uma faculdade nova de tanto curso e provas que são exigidos.

No meu caso foi só chegar e trabalhar. Com pouco tempo recebi algumas boas propostas para Java Developer, o mercado daqui anda muito aquecido e a profissão é bem valorizada.

Contudo, imigrei por um processo oficial do governo do Canadá que visa trazer pessoas qualificadas para o Canadá, e para ser aprovado nesse processo é essencial diploma superior. A vantagem é que quando aprovado, se vem como residente permanente (mais ou menos equivalente ao Green Card americano) e depois de três anos no país pode solicitar a cidadania.

Penso em breve escrever um post falando um pouco do caminho que percorri para conseguir esse visto e sobre as diferenças que entre o mercado daqui e o brasileiro. Talvez seja útil para pessoas com vontade de morar fora, mas não saibam por onde começar nem imaginem que é um sonho realizável e não tão complicado como parece.

[quote=Leonardo3001][quote=glaucioguerra]
Agora que a lei foi aprovada fica complicado voltar atrás …[/quote]

Aprovada? Tsk, tsk. Você não conhece nada de política! Ela foi aprovada em uma Comissão! Que é o primeiro passo para se aprovar um projeto de lei, ainda tem que passar pela Câmara e pelo Senado, e finalmente passar pela assinatura do Presidente.

Até lá, o projeto vai morrer no caminho, pois a rejeição é grande.[/quote]

Quanta arrogância no seu comentário infeliz. Realmente você deve saber MUITO de política para julgar que não sei nada. Poderia me dar umas aulas?

[quote=Luca]Olá

Certíssimo! Longe de nós ser contra quem estuda.

Sim, até porque curso de faculdade virou produto comercial sem nenhuma fiscalização. Vocês sabiam que tem dono de universidade no interior de SP que está preso? Que outro dono de um grande grupo de SP que diz que é 10 é considerado bandido até por alguns dos seus colegas donos de outras universidades?

Há muito dono de universidade bem intencionado mas há alguns que só pensam na grana. Universidade virou negócio e não é a toa que um dos maiores grupos é de propriedade de um banco.

Antes de regulamentarem a profissão deveriam definir melhor os cursos. Mas o que se vê por aí é faculdade vendendo fita VHS por 50 reais e dando diploma de ensino à distância.

[]s
Luca[/quote]

É a pura verdade. Tornou praticamente um comércio, de filantrópica essas faculdades não tem nada.

Ow, nem fala. Certa vez eu estava em uma palestra na Puc de Poços de Caldas e o Prof. Dr. contou um caso de quando, a serviço do Mec, ele e outros professores foram certificar uma Faculdade de C. Comp. numa cidadezinha no meio do nada lá no norte de Minas. Chegando lá, segundo ele, tudo parecia mto bem organizado e em cima das normas, entao a facu foi aprovada. Como ele achou tudo certo demais, resolveu voltar por sua conta umas semanas depois e chegando lá…Cade curso e os lab’s de computação???.. Era um golpe pra facu vender diplomas de C. Computação…
Então tem mta picaretagem destas facu’s por aí…
Mas ainda acho que o Serpro e outros Orgãos Competentes (se é que existe isso no governo) ainda venham a interpelar pelos profissionais prejudicados nesta lei.

Acredito que o colega salientou é muito coerente. Assim como outras profissões, o diploma em si sem a aprovação do seu conselho competente, não habilita o profissional de exercer a profissão. Portanto, a minha opinião é que o cara pode comprar o seu diploma, levar a faculdade nas coxa, mas se ele não passar no exame que o comprova como competente, também não poderá ser contrato como um profissional da área de TI.

Abraços !

Poderia rolar um projeto de lei dizendo que hora extra tem que ser paga para profissionais que trabalham em regime de 14x6 ou 18x7 (coisa comum no tal de outsourcing).

Mudando de saco pra mala: por que metalurgicos, professores e até policiais fazem greve mas os programadores e analistas de sistemas não?

Glaucio, afinal você é contra ou a favor?

Acho extremamente grave e or isso sou totalmente contra qualquer tentativa deste tipo. Pessoas que entendem da área (i.e. SBC e ACM) já desistiram e o governo brasileiro -que é incompetente em política, imagine em tecnoloia- não tem a menor condição de ter sucesso neste cenário, até porque o caminho para o sucesso não passa em engessar o modelo.

Eu não li esta versão da proposta mas todas as outras que tive acesso pensavam nos profissionais sem educação formal já no mercado. Como falei na minha mensagem anterior isso não resolve o problema gerado.

Ele assina alguma coisa com CREA? Edifica uma casa?

Meu pai é engenheiro e o que mais existe nas empresas de petróleo são técnicos que fazem o trabalho de engenheiros e apenas não assinam seus próprios projetos. É esse tipo de hipocrisia que queremos para a nossa área?

E existe tal exame que comprova competência? Quem comprova competência é o mercado. Fazer exame é fácil, difícil é ser um profissional dedicado que está sempre estudando, se atualizando e não se encosta num diploma ou numa carteirinha de orgão regulamentador.

[]'s

Rodrigo Auler

[quote=pcalcado]Glaucio, afinal você é contra ou a favor?

Acho extremamente grave e or isso sou totalmente contra qualquer tentativa deste tipo. Pessoas que entendem da área (i.e. SBC e ACM) já desistiram e o governo brasileiro -que é incompetente em política, imagine em tecnoloia- não tem a menor condição de ter sucesso neste cenário, até porque o caminho para o sucesso não passa em engessar o modelo.

Eu não li esta versão da proposta mas todas as outras que tive acesso pensavam nos profissionais sem educação formal já no mercado. Como falei na minha mensagem anterior isso não resolve o problema gerado.

Ele assina alguma coisa com CREA? Edifica uma casa?

Meu pai é engenheiro e o que mais existe nas empresas de petróleo são técnicos que fazem o trabalho de engenheiros e apenas não assinam seus próprios projetos. É esse tipo de hipocrisia que queremos para a nossa área?[/quote]

Sou contra! Só acho que precisamos de algo que valorize a profissão, mas não dessa forma que está sendo posta. Esses gringos que eu conheci eram eng. e trabalhavam na área de Projeto e Planjemento, não tenho certeza se assinavam os desenhos e tal. Mas vivam no Brasil e trabalhavam como todo mundo por lá.

[quote=peczenyj]Poderia rolar um projeto de lei dizendo que hora extra tem que ser paga para profissionais que trabalham em regime de 14x6 ou 18x7 (coisa comum no tal de outsourcing).

Mudando de saco pra mala: por que metalurgicos, professores e até policiais fazem greve mas os programadores e analistas de sistemas não? [/quote]

Porque não temos uma forma de organizar isso! É exactamente onde queria chegar, sinto falta disso na nossa profissão. Agora como isso pode existir sem um conselho ou um órgão que organize isso? Realmente eu não sei, infelizmente…

Bom, no que diz respeito a hora extra, tem uma tal de Justiça do Trabalho que “fiscaliza” esse tipo de coisa.

Inclusive muita empresa “aperta” quando esses caras aparecem.