Bem, quem não estiver disposto a ouvir algumas verdades, é melhor passar batido por esse post. Quem estiver disposto, saiba que algumas dessas verdades podem não agradar você.
- Quem levou a sério o post do ValterVS é retardado e merece viver eternamente programando em BASIC numa empresinha de fundo de quintal. Ponto.
- A quantidade de besteiras que li aqui é enorme, a despeito de algumas coisas com sentido que foram ditas.
- Leiam o post do One Boy, que é um dos posts mais sensatos de todos, apesar de eu discordar de algumas coisas.
- Vê-se notoriamente que a maior parte das pessoas aqui é iniciante no mercado de trabalho (qualquer coisa abaixo de 5 pra mim é iniciante).
Vamos lá, tentar explicar algumas coisas pra quem ainda não abriu um pouco mais a visão a respeito da vida e dessa coisa chamada “vida profissional”:
1- Após uma determinada idade, o capital intelectual que você adquiriu com a experiência profissional é o que vai te distinguir de profissionais mais jovens
2- Ter alto salário não está necessariamente ligado a essa primeira afirmação. Aliás, normalmente ganha melhor quem está mais enquadrado dentro dessa primeira afirmação
3- Ganhar bem e manter-se no mesmo patamar (ou zona de conforto) por muito tempo é mais prejudicial que se pode imaginar, a médio-longo prazo. É comum cair na real tardiamente que você está ‘fora do jogo’, só porque continuou se mantendo dentro da zona de conforto.
4- Tirando alguns casos (pessoas com habilidades excepcionais), só alcança o sucesso profissional quem trabalha muito, duro, com vontade
5- Ilude-se quem acha que é possível ser o ‘bambambam’ de qualquer área de conhecimento/negócio trabalhando rotineiramente atrás de uma mesa 8 horas por dia e pronto
6- Há pessoas com habilidades extraordinárias, em campos distintos. Relacionamento com clientes/pessoas, gestão, programação, redes, arquitetura. Com um mínimo de bom-senso (e normalmente aliado a uma boa carga de trabalho), essas pessoas vão atingir sucesso profissional, ganhar bem, e não precisar se matar 14 horas por dia sempre
7- Pense bem: quantas pessoas com essas habilidades extraordinárias você conhece? Você é uma delas? Muito possivelmente, não. Então, o negócio é trabalhar duro.
8- As empresas que contratam serviços de consultorias de TI exigem, cada vez mais, e cada vez mais agressivamente, que se faça mais, por menos.
9- Empresas (sejam de consultoria, padarias, indústrias) têm que lucrar pra se manter. Lucrar não é indecente, como a maior parte dos brasileiros pensam. Lucrar é bom, porque permite à empresa CRESCER.
10- Qualquer empresa que mantenha uma fábrica de software paga relativamente mal. Por que? Industrialização, linha de produção. Vejam a afirmação 8. É preciso manter um salário compatível com o que os clientes estão pagando simplesmente porque senão uma fábrica dessas não poderia existir.
11- O que você quer daqui há 10 anos? Ser um programador? Um arquiteto de TI? Alguém que estará comandando outras pessoas?
12- Destaca-se quem é pró-ativo, quem trabalha fundamentado na meritocracia. Releia a afirmação 5 para pensar um pouco mais.
Eu trabalho na Accenture. Como qualquer outra empresa, tem suas qualidades e seus problemas. Tem pessoas ótimas, e pessoas péssimas (em sentidos diversos). Tenho, em carteira, 18 anos de profissão e mesmo por isso um bocado de base e experiência para fazer comparações.
Comparativamente, eu vejo que a Accenture, na soma de suas partes, supera outras empresas do setor. Mas tem lá seus problemas, claro.
Uma coisa que eu digo pra quem quer entrar nessa empresa: “se você está buscando salário bom a curto prazo, então bye bye, esse não é o seu lugar. Agora, se você quer investir em carreira, eu vejo que esse é um bom lugar”. Repare que eu não afirmo que esse é o melhor lugar, mas é um bom lugar. Muito bom, na minha opinião.
Não é nada incomum vermos aqui gerentes com 30 anos de idade, só como exemplo. Se você entra na área de consultoria como analista, pode, no curso de aproximadamente 6 anos, virar gerente com conhecimento de causa para tal. Claro, há alguns pré-requisitos importantes, como formação em faculdade de expressão, inglês fluente, e ter potencial. Há um plano de carreira agressivo, mas também se você não atingir expectativas profissionais dentro de prazos estabelecidos, está fora, é demitido. Posso estar enganado, mas pelo que sei não são muitas as pessoas demitidas nessa área.
Em Services, a coisa é um pouco mais devagar, mas aí é por conta do tipo de negócio (a margem de lucro é menor, são contratos mais longos de outsourcing, e não é exigido o nível de dinâmica de um profissional de consultoria). Mesmo assim, há promoções, há premiações, há treinamento. Basta fazer a sua parte, com pró-atividade, que maior parte das vezes você será recompensado, nem que demore um pouco mais que você imagina.
Em Solutions (onde estão os delivery centers, ou fábricas), a coisa é num patamar ainda mais ‘baixo’. Pra esse negócio sobreviver, tem que ser com um nível de salário usualmente mais baixo, senão não vale a pena o investimento. Mas tem uma linha de carreira parecida com Services.
Consultoria não é pra qualquer um. É pra quem quer crescimento rápido de carreira, à custa de muito, muito trabalho. Mas também com muito, muito, muito aprendizado. Em muitos projetos, e arrisco dizer que quase todos, é estressante, tem bastante pressão, e muita gente não aguenta. Mas é por isso mesmo que a participação nos lucros é maior. Opa, ninguém atentou para esse detalhe, né? Na Accenture, anualmente há um processo de avaliação que determina quantos salários a mais você vai ganhar no ano seguinte. Dependendo do nível, a coisa vai de 0,5 a 5 ou 6 salários. Mas é pesado, é muito trabalho.
Em services, bem… depende do projeto. Tem projeto calmo, que você não se estressa. Tem projeto louco, que você trabalha muito todos os dias. Tem projeto em que as pessoas são ‘body shop’ (esses são raros), onde os funcionários da Accenture nem se sentem direito ‘da’ Accenture.
Em solutions, eu não conheço direito. O que sei é que usualmente é bastante trabalho.
O que diferencia a empresa então? Vou citar algumas coisas para vocês fazerem o comparativo com as empresas que vocês trabalham. Isso vale para todas as áreas que já citei:
- Não desconta nada. Plano de saúde? Ticket? Nadinha. Não sei quanto a vale transporte, pois não uso.
- Paga 50% ou 80% de um curso de idioma. Depende do nível que você tem nesse idioma (quanto menos sabe, mais é subsidiado)
- Na área de consultoria, há treinamentos obrigatórios feitos no exterior. Nas outras workforces (services, solutions), esse treinamento pode ser dado dependendo da sua avaliação (você tem que ser bom pra merecer).
- Anualmente há o processo de avaliação que vai determinar quantos salários você vai ganhar a mais, no ano seguinte (mas é atrelado a resultados da empresa): a coisa varia entre 0,5 e 6 salários. Depende do nível, e da workforce. Em services, para níveis não gerenciais, pelo que sei a média é de 1 salário. Já ganhei mais que isso.
- Ao atingir determinados níveis de carreira (de consultor em diante), você tem direito a um carro zerinho, que ao prazo de 3 anos pode comprar por um preço muito mais baixo que o de mercado. Tem que pagar uma micharia (coisa de uns centos e poucos por mês) por uma pura questão de leis trabalhistas. Não é necessário preocupar-se com IPVA, seguro ou manutenção, diga-se de passagem.
- Gerentes têm 14o salário. Têm direito a carro, com auxílio combustível de R$ 400 por mês. Quer um Stilo ou um Meriva? Gerentes Seniores, são outros carros que esqueci agora.
- Nunca vi ninguém ser demitido. Mesmo pessoas que, em minha opinião, são fanfarronas e deveriam pedir pra sair Opa, pra não dizer que nunca vi, eu soube de alguns casos… era gente que estava roubando a empresa de alguma forma, ou roubando/fraudando o cliente, ou então fazendo MUITA m*rda mesmo.
- Não é nada impossível pedir pra trabalhar 4 ou 6 horas por dia (claro, com redução de salário). Conheço inclusive algumas pessoas nesse esquema. É especialmente útil pra mulheres. Falando no assunto, mulheres podem estender um pouco mais a licença maternidade, trabalhando meio período por dois meses adicionais. Pais, podem fazê-lo por um mês, se não me engano.
- Maior parte dos líderes que vi ou tive contato têm uma grande preocupação em formar pessoas, ensinando, orientando, preparando.
- Maior parte de gerentes e líderes que vi têm absoluto preparo para exercer o papel que exercem.
- Falando de formar pessoas, existe o mentoring, onde um profissional mais antigo da empresa serve como orientador. Já mencionaram isso aqui.
- Só fica entediado aqui quem quiser. Quer fazer outra coisa, trabalhar com outra tecnologia, ou outra área de conhecimento? Dá, muito mais facilmente que se pensa. Claro, você tem que deixar sucessores, e costurar um networking para que outras pessoas confiem no seu potencial de fazer o que pretende. Jacaré que fica parado vira bolsa.
- A abertura a trabalhos diferentes aqui é impressionante. Você pode estar em um projeto de telecom aprendendo a lidar com determinadas áreas de negócio, e depois pode estar em uma empresa do governo lidando com outro tipo de projeto. Basta se mexer.
- Não me lembro de muitas empresas que conseguiram promover recepcionistas a outros cargos, como na área de RH ou administrativa. Uma outra está entrando na consultoria, como estagiária. Se trabalhar direito, vai a gerente daqui há uns 7, 8 anos.
- Inúmeras vagas oferecidas são extensivas a deficientes físicos. Pessoalmente conheço um deficiente visual que está há um bocado de tempo na empresa.
Sou de services, tenho pouco mais de dois anos de empresa. Já viajei pros EUA para treinamento, vou de novo pro exterior em breve como avaliador participar da minha terceira avaliação de CMMI. Aprimorei meu inglês, e aprendi por conta própria Espanhol, para poder falar com a galera da América Latina e Espanha, com quem trato muitas vezes. Com certeza, comparado a outros profissionais do mesmo nível de carreira, eu posso ser considerada uma pessoa de sorte. O que vivi não é a realidade de muitos.
É óbvio que não são só coisas boas. Tem gente burra, tem injustiças, tem umas maluquices, tem gente incapacitada exercendo papéis que não deveriam estar exercendo. Mas acho que isso é de se esperar de uma empresa que, só no Brasil, tem mais de 6000 profissionais.
Sinto realmente muito pelas pessoas que acabaram vivendo situações (que não são incomuns) de terem que trabalhar muito, ganhando relativamente mal. Já comentei que o salário aqui realmente não é a melhor coisa do mundo. Com certeza, alguns tinham mesmo que sair, seja porque realmente a liderança do projeto era incapaz, seja porque sua vida pessoal etava escangalhando. Mas temo que alguns não tenham tido uma visão mais pra frente.
Agora, finalmente chegando ao que o One Boy falou no outro post, eu posso afirmar categoricamente que não é só pelo salário que estamos trabalhando. O fator de realização profissional, de se sentir importante, de sentir que está trabalhando com lideranças boas, de sentir que está contribuindo para o resultado da empresa e para si mesmo conta muito. Infelizmente, as pessoas acabam demorando pra perceber isso.
Por fim, não pensem que estou bitolado pela empresa. Só que eu tenho experiência suficiente pra conseguir enxergar algumas coisas, sem contar as experiências que já vivi em outros lugares. Essa experiência me dá mais base para comparar as virtudes e os defeitos de onde estou trabalhando. Aqui, até o momento, eu tenho a confiança de que só depende de mim para eu crescer, coisa que eu não vi em outras empresas.
ufa, falei pra caramba!
p.s.: putz, agora que eu vi… esse tópico já é antigo mesmo. Detesto dar ‘revival’ assim em post velho. Mas, de qualquer forma, a mensagem continua valendo porque a empresa ainda tá contratando pra dedéu