Procura-se: Empresa de TI que pague bem
Publicado em 29.08.2007
Jacques Waller
Especial para o JC
Certificação CMM, conhecimentos em Java e J2ME, especialização em gestão de TI e mestrado profissional em engenharia de software. Tudo isso para ganhar, no máximo, R$ 3 mil. Segundo os profissionais de Tecnologia da Informação (TI) do Recife, o mercado exige muitos conhecimentos, mas não compensa o investimento com salários adequados. Ao contrário, oferece remunerações bem abaixo da média dos grandes centros.
De acordo com pesquisas de consultorias de recursos humanos de São Paulo e do Recife, a diferença de salários é de 20% a 50%, mas segundo os profissionais, algumas especialidades recebem até quatro vezes menos do que no Sudeste. E dependendo do tipo de contrato, a diferença pode ser ainda maior.
Como resultado, profissionais que investem em conhecimento migram para outros centros de tecnologia atrás de melhor remuneração, abandonam a parte técnica para assumir cargos de gerência de projetos ou, ainda, criam as próprias empresas, aumentando o déficit de profissionais de TI no Estado.
Profissionais pedem salários maiores
Publicado em 29.08.2007
Exigências demais e remuneração abaixo da média de cidades como Brasília e São Paulo são principais queixas da mão-de-obra local de TI
Procura-se urgentemente empresa de TI que pague bem no Recife. A reclamação vem dos próprios profissionais de tecnologia. Eles afirmam que, se por um lado as empresas que compõem o pólo tecnológico do Estado têm exigido profissionais com conhecimentos em diversas linguagens de programação, formação em gestão de pessoas e certificações de qualidade de software, por outro lado os salários oferecidos são muito abaixo da média de outros centros do Brasil, como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.
Enquanto o salário de um profissional de TI em nível pleno no Recife é de R$ 1,8 mil, em média, no Sudeste a oferta é 50% maior. Em alguns casos, a diferença pode chegar a ser de até quatro vezes. De acordo com o analista de sistemas Marcílio Gomes, é difícil atingir a remuneração de R$ 3 mil, um dos maiores salários oferecidos pelo mercado local. “Uma proposta dessas é até ruim porque sabemos que não se tem mais para onde subir”, conta Gomes.
Ele diz ainda que, recentemente, recebeu a proposta de uma empresa de Brasília que ofereceu R$ 40 por hora de salário, o dobro do que é oferecido no Recife. “Dificilmente se oferece mais de R$ 20 por hora. E sei que não é o melhor salário daquela cidade”, comenta.
“As empresas exigem demais e dão de menos”, opina o engenheiro de software João Victor Coelho. De acordo com ele, a média salarial é incompatível até mesmo com o nível de exigência do mercado. “Tirar certificação da Microsoft ou em Java, fazer mestrado, tudo é muito caro. O mestrado profissional do Cesar, por exemplo, custa R$ 1,6 mil. Só é possível fazer esse curso se você tiver uns R$ 4 mil de renda. E para conseguir esse nível salarial, o profissional tem que abandonar a parte técnica e partir para a área de gestão”, conta o engenheiro.
O designer de interação Marcelo Eduardo Moraes, que lidera equipes de desenvolvimento de softwares para um grande laboratório de TI do Recife, conta que a prática de salários baixos no Estado já se tornou uma questão cultural. “Nas entrevistas que fiz para contratar programadores, notei que a expectativa salarial é mais baixa que a média. Mesmo com o preço de venda dos projetos e o nível dos profissionais ser o mesmo praticado por empresas de outros mercados, os valores não são repassados aos funcionários”, destaca.
Marcelo, que já trabalhou em vários mercados do Brasil, conta que em Brasília chegou a conhecer profissionais pernambucanos que ganhavam abaixo da média da capital federal, mas que ainda assim recebiam o dobro do que é oferecido no Recife. “Eu diria que a diferença de salários para um recém-formado chega a ser de quatro vezes em alguns casos, mas certamente é pelo menos o dobro para um iniciante”, compara.
Os baixos salários também contribuem para a chamada evasão de cérebros. Um dos que se prepara para deixar o mercado local é o engenheiro de Sistemas de Interface, Berg Brandt. O profissional está de malas prontas para o Canadá, onde recebeu uma proposta que classificou como “tentadora”. “É o que acontece com as pessoas que se qualificam um pouco mais. Elas acabam saindo porque o mercado local não consgue competir com multinacionais”, ressalta. ( J.W.)
Diferença de salários varia entre 20% e 150%
Publicado em 29.08.2007
Mesmo exportando talentos e disputando projetos com empresas multinacionais, a diferença entre salários praticados no Recife e nos grandes centros como São Paulo varia entre 20% e 150%. Pesquisas de consultorias de recursos humanos do Recife e do Sudeste comprovam que muitas vezes a diferença salarial é maior do que os encargos com o custo de vida das metrópoles, mas apontam que os maiores salários só são conseguidos graças a práticas ilegais que vêm se espalhando cada vez mais pelo mercado.
Segundo Rafael Seabra, um dos sócios da empresa Eliti Gestão de Talentos, pré-incubada no programa Base de Empreendimentos de Alta Tecnologia do Recife (Recife Beat), os salários iniciais praticados no Recife e em São Paulo, por exemplo, têm diferença de apenas 20%. A empresa, criada em fevereiro deste ano, realizou pesquisas para identificar perfis salariais e necessidades do mercado local. Até o fim de 2007, a empresa deve criar um banco de currículos online somente de profissionais de TI.
“Os salários iniciais são parecidos. O problema mesmo é o plano de cargos, ou seja, a progressão do profissional. Esta é uma prática quase ignorada pelas empresas do Recife”, comenta Seabra, que diz que a média de salários iniciais na cidade varia entre R$ 1,5 mil e R$ 2,6 mil para programadores júnior.
Uma pesquisa da consultoria Lopes & Borghi, divulgada no último mês de maio, indica que a diferença na remuneração chega a ser de 50%. Uma pessoa no mesmo cargo de programador júnior na capital paulista recebe entre R$ 2,2 mil e R$ 3,31 mil. Programadores sênior em São Paulo recebem R$ 6,7 mil, em média.
Os valores levantados pela Lopes & Borghi levam em conta os salários de contratos baseados na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Os valores aumentam ainda mais quando são observados os contratos de Pessoa Jurídica (PJ), que apesar de serem considerados aberrações legais, são amplamente praticados no Sudeste do País.
O contrato PJ considera que cada funcionário é uma empresa prestadora de serviço. Com isso, a empresa contratante não arca com os encargos financeiros exigidos pela CLT, além de não pagar férias e 13º salário, mas repassa parte do valor dos encargos ao profissional. Uma pesquisa da consultoria Manager, em abril do ano passado, identificou que o salário de um programador em São Paulo com contrato tipo PJ varia entre R$ 3,75 mil e R$ 4,4 mil.
Mas para o consultor de Pesquisa e Remuneração da consultoria de recursos humanos Catho, Mário Fagundes, os salários de TI do Estado são os que mais têm crescido no Brasil. “Se o nível de investimento no setor se mantiver, é possível que em médio prazo os salários sejam compatíveis com o dos grandes centros urbanos”, diz. ( J.W.)
Em vez de assalariado, empresário
Publicado em 29.08.2007
Mesmo com a pouca perspectiva de crescimento no mercado local, alguns profissionais de TI decidem ficar no Recife. Alguns, presos pelas raízes do sentimento. Outros apostam no empreendedorismo como forma de ampliar as chances e os salários praticados em Pernambuco.
O arquiteto de software Mozart Araújo, 28, é um dos que decidiu ficar por causa da ligação com a terra. Ele, que chegou a trabalhar na Microsoft ganhando um salário bem maior do que o que ganha no Recife, diz que a saudade da família o trouxe de volta.
“Voltei não porque o salário aqui é melhor. Foi uma questão pessoal, de família. Me perguntei que tipo de vida eu queria. Profissionalmente, minha vida na Microsoft era ótima, mas há outros fatores envolvidos e acho que ainda tenho que experimentar muita coisa por aqui”, pondera.
O arquiteto de software diz que apesar dos valores oferecidos pelas empresas locais terem aumentado nos últimos anos, o salário ainda fica a desejar. “A diferença entre os salários antigamente era de três ou quatro vezes. Hoje, já é um pouco melhor. Mas sinto que, apesar de estarmos na direção certa, não estamos evoluindo na velocidade adequada”, critica.
Já o diretor da empresa Inove, Mardem Menezes, decidiu ficar para empreender. Mardem também teve a oportunidade de trabalhar na Microsoft, mas há cerca de três anos preferiu tentar criar seu próprio negócio.
“Tenho vários amigos que foram para fora atrás de melhores salários. Mas acredito que o quadro no Recife deve melhorar, embora não se saiba quando”, comenta. Menezes acredita que mesmo com toda a capacidade dos profissionais pernambucanos, a questão dos salários no mercado local passa necessariamente pelo volume de negócios.
“O foco não é somente aumentar salários. É aumentar a quantidade de negócios. O ambiente do Porto Digital tem muitas empresas, mas em termos de volume de negócios, ainda somos muito pequenos. Estamos indo em um bom caminho agora porque o Porto está querendo vender TI para empresas que não são de TI. E não adianta fazer projetos geniais que ganham prêmios, mas não geram dinheiro”, critica. ( J.W.)
Tradição acadêmica é atrativo local
Publicado em 29.08.2007
De acordo com o presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, atualmente o Recife importa mais profissionais de TI do que exporta. Frente aos baixos salários oferecidos pelas empresas locais, há quem acredite que a academia é o principal atrativo dos estrangeiros no Recife. “Não é só salário. Muitos dos profissionais que vêm para cá têm planos acadêmicos, para fazerem mestrado e doutorado. Aí acabam recebendo propostas e vão ficando”, comenta o engenheiro de Sistemas de Interface, Berg Brandt.
“A Universidade Federal, por exemplo, é referência no ensino de tecnologia. Então, muitas vezes as pessoas vêem fazer um mestrado e se adaptam ao mercado. Agora, se as empresas estão contratando gente de fora é porque elas podem arcar com os salários desses outros mercados. Ninguém trabalha de graça”, comenta o designer de Interação, Marcelo Eduardo Moraes.
O coordenador do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Cunha, diz apenas que a questão salarial das empresas de tecnolgia de Pernambuco “é um problema a ser trabalhado”. Já o déficit de profissionais do mercado local deve ser bem dimensionado.
“O mercado tem necessidades específicas que precisam ser trabalhadas. Há necessidade de formação de gente em quantidade e qualidade. Mas a base está bem montada e agora é só trabalhar nas especificidades”, aponta.
Cunha ressalta também que a evasão de profissionais recifenses para outros mercados não segue somente a lógica da busca por salários. “Um dos problemas que contamos sempre aqui é que, como somos inovadores no ensino de várias linguagens, os mercados externos acabam absorvendo todos os nossos alunos de uma vez”, diz.
“A atração de profissionais para o mercado envolve também a questão da remuneração. Mas o problema não está concentrado no Recife. O profissional que vier de fora também não está necessariamente dentro dos padrões exigidos”, comenta o coordenador do mestrado em Engenharia da Computação da Universidade de Pernambuco (UPE), Ricardo Massa. ( J.W.)